segunda-feira, 25 de junho de 2012

LÍNGUA DE JESUS

Durante o Iº século, na terra onde viveu Jesus, consta que se utilizavam quatro línguas: aramaico, hebraico, grego e latim.
Dentre elas, a língua oficial e, ao mesmo tempo, a menos utilizada, era o latim. Usavam-no quase exclusivamente os funcionários romanos ao conversar entre si, e conheciam-no também algumas pessoas cultas. Não parece provável que Jesus tivesse estudado latim nem que o empregasse nas suas conversas de todos os dias.

Quanto ao grego, não seria de admirar que Jesus se servisse dele algumas vezes, já que muitos comerciantes e artesãos da Galileia sabiam essa língua, ou, pelo menos, conheciam os rudimentos da mesma necessários para uma simples actividade comercial ou para comunicar com os habitantes das cidades; de facto, estes eram, na sua maioria, gente de cultura helénica.

O grego também era utilizado na Judeia: calcula-se que oito a quinze por cento dos habitantes de Jerusalém falassem grego. Apesar de tudo, não se sabe se Jesus terá usado alguma vez o grego, nem é possível deduzi-lo com absoluta certeza de nenhum texto, mas tampouco se pode pôr de parte essa hipótese. É provável, por exemplo, que Jesus tenha falado com Pilatos nessa língua.

Por outro lado, as repetidas alusões dos evangelhos à pregação de Jesus nas sinagogas e às suas conversas com os fariseus sobre diversos textos da Escritura levam-nos a pressupor que Ele terá conhecido e utilizado algumas vezes a língua hebraica.

No entanto, embora Jesus conhecesse e por vezes usasse o hebraico, como linguagem coloquial e na sua pregação deveria falar em aramaico, que era a língua habitual de uso diário entre judeus da Galileia. De facto, em certas ocasiões, o texto grego dos Evangelhos deixa em aramaico palavras ou frases soltas postas na boca de Jesus: talitha qum (Mc 5,41), corban (Mc 7,11), effetha (Mc 7,34), geena (Mc 9,43), abbá (Mc 14,36), Eloí, Eloí, lema sabachtani? (Mc 15,34), ou dos seus interlocutores: rabbuni (Mc 10,51).

Os estudos acerca da transformação linguística dos Evangelhos indicam, além do mais, que as palavras neles recolhidas devem ter sido pronunciadas originariamente numa língua semítica: o hebraico ou, mais possivelmente, o aramaico. Na estrutura peculiar do grego usado nos Evangelhos, entrevê-se uma raíz sintáctica aramaica.

Mas também se pode deduzir do facto de certas palavras colocadas pelos Evangelhos na boca de Jesus ganharem particular força expressiva quando traduzidas para aramaico, que há palavras que são utilizadas com uma carga semântica distinta da habitual em grego, derivada de um uso semitizante. Inclusive, em certas ocasiões, ao traduzir os Evangelhos para uma linguagem semítica, nota-se neles alguns jogos de palavras que passam despercebidos no original grego.

HÉLDER GONÇALVES


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